Para quem não sabe Voar!
ou para quem se esqueceu de como se Voa...
Voa, sussurrou uma voz na escuridão...
Mesmo
nos sonhos, não é possível cair para sempre. Sabia que iria acordar um
instante antes de atingir o solo. Acordava sempre um instante antes
de atingir o chão.
E se não acordares? Perguntou a voz.
O
chão estava cada vez mais perto, ainda distante a um milhar de milhas
de distância, mas mais perto do que estivera. Ali, na escuridão, fazia
frio. Não havia Sol, nem estrelas, apenas o solo, lá em baixo, que
subia para o esmagar, e as névoas cinzentas, e a voz sussurrada.
Desejou chorar.
Não chores. Voa!
- Não posso voar - disse Bran - Não posso, não posso...
Como sabes? Alguma vez tentaste?
- Ajuda-me - disse
Estou a tentar, respondeu o Corvo
- És mesmo um corvo? - Perguntou Bran
Estás mesmo a cair? retorquiu o Corvo
É só um sonho - disse ele
Será? Perguntou o Corvo
Eu acordo quando atingir o chão - disse Bran à ave.
Tu morres quando atingires o chão, disse o Corvo
Bran fechou os olhos e começou a chorar.
Isso não serve para nada, disse o Corvo.
Já te disse, a resposta é voar, não chorar. Quão difícil pode ser? Eu estou a fazê-lo. O Corvo entregou-se ao ar e esvoaçou em torno da mão de Bran.
Tu tens asas - fez notar Bran.
Há diferentes tipos de asas, disse o Corvo.
Bran
estava a cair mais depressa do que nunca. As névoas cinzentas uivavam
em seu redor enquanto mergulhava para a terra, em baixo.
- Que estás tu a fazer-me? - perguntou ao Corvo, choroso.
Estou a ensinar-te a voar.
- Não posso voar!
Estás a voar agora mesmo.
- Estou a cair!
Todos os voos começam com uma queda,disse o Corvo. Olha para Baixo.
- Tenho medo...
OLHA PARA BAIXO!
Bran
olhou para baixo e sentiu as entranhas transformarem-se em água. O
chão corria na sua direcção. O mundo inteiro espalhava-se por baixo
dele... Via tudo com tanta clareza que por um momento, se esqueceu de
ter medo...
- Pode um homem continuar a ser valente se tiver medo? - ouviu a sua voz dizer, uma voz pequena e distante.
E a voz de seu pai respondeu-lhe.
- Essa é a única maneira de um homem ser Valente.
E agora Bran, insistiu o Corvo. Escolhe. Voa ou Morre.
A morte estendeu-lhe as mãos para ele gritando.
Bran abriu os braços e voou.
Asas
invisíveis beberem o vento e encheram-se, e empurraram-no para cima. O
Céu abriu-se, lá em cima. Bran pairou. Era melhor que qualquer outra
coisa. O mundo encolheu-se por baixo dele.
- Estou a voar! - gritou, deliciado
Dei por isso, disse o Corvo
In: " A Guerra dos Tronos - As Crónicas de Gelo e Fogo - Vol. 1" by George R. R. Martin
Este
é um excerto de um capítulo dedicado a Bran. Não corresponde
exactamente ao texto original, uma vez que abreviei aqui o capitulo
:+)!!